Desafios e oportunidades para a restauração no Brasil: Economia

O quarto texto da série da ATLAS Florestal sobre os desafios e as oportunidades para a restauração no Brasil apresenta a visão de Marcus Stensen, co-empreendedor da Trê Investimentos, onde trabalha na busca e seleção de negócios de impacto socioambiental. Possui mais de 20 anos de experiência na indústria financeira, em uma jornada que passou por bancos, corretora e bolsa, além de ter atuado como gestor de projetos em uma consultoria de investimento social privado.

Foi a partir de seu interesse em causas socioambientais que Stensen decidiu estudar Gestão de Organizações do Terceiro Setor (FGV) e Design para Sustentabilidade (Gaia Education). “Hoje, atuo numa organização que estrutura programas de financiamento e fortalecimento para negócios com causa. Sabemos da necessidade de repensar a maneira como o ser humano se relaciona com o meio ambiente, e de como a degradação do planeta tem sido um dos principais fatores para o agravamento das mudanças climáticas”, diz.

Para Stensen, a produção e disseminação de conhecimento é um dos caminhos necessários para que haja mudanças de hábito efetivas nos diferentes setores da sociedade, levando também à sensibilização das diversas fontes de capital financeiro. “Precisamos desta conscientização para atrair investidores, que convencionalmente buscam apenas o retorno financeiro. É preciso considerar outras formas de retorno, como o impacto socioambiental, por exemplo, em uma parte do seu portfólio de investimentos. Um pequeno percentual dos investimentos, de um grande número de investidores pode gerar um enorme impacto positivo”, afirma.

Criar incentivos, despertar interesse para que o capital flua para essas atividades e consolidar mecanismos na parte regulatória surgem como alternativas para dialogar com investidores quando falamos em projetos de restauração florestal no Brasil. “A análise de risco e de retorno é sempre uma questão chave. Um grande desafio é o fato de muitos desses mecanismos serem relativamente novos e os projetos financiados serem de longo prazo”, explica.

Diante de mecanismos recentes e que podem gerar insegurança para novos investidores, uma das soluções seria trabalhar com pilotos, para reforçar a segurança do investimento e demonstrar, na prática, o que é possível realizar em maior escala.

Além disso, modelos que combinem diferentes fontes para o financiamento de negócios de impacto, como blended finance, surgem como alternativa para impulsionar esses projetos no país. Esses financiamentos podem combinar recursos de filantropia com recursos de investidores privados. “O financiamento misto é uma forma de reduzir os riscos para uma parcela dos investidores, em um momento ainda experimental de novos projetos. A participação do governo pode ajudar a dar visibilidade e fazer com que esses projetos sejam replicados em maior escala”, afirma Stensen.

No último ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), realizou a primeira chamada pública de Blended Finance a projetos e programas nas áreas de bioeconomia florestal, economia circular e desenvolvimento urbano, totalizando R$246 milhões em recursos. Com 11 projetos selecionados, o objetivo foi testar e desenvolver novos modelos e instrumentos financeiros híbridos em caráter piloto e experimental para projetos socioambientais. Recentemente, também foi publicado um decreto que estabelece a Estratégia Nacional de Economia de Impacto (Enimpacto) para promoção de atividades que alinhem os resultados financeiros às soluções para questões sociais e ambientais. “Precisamos dos setores público, privado e do terceiro setor com participação relevante neste debate, só assim conseguiremos as mudanças de hábitos e o impacto desejado”, conclui Stensen.

Nicole Wey Gasparini

Nicole Wey Gasparini

Jornalista, escritora e trabalha freelancer na área de sustentabilidade e crise climática. É autora do livro “Boon na minha vida - uma jornada pela Ásia” (Bambual Editora) narrado a partir da imersão que realizou durante seis meses para cinco países asiáticos, aos 21 anos. Nos últimos anos, morou em diferentes cidades brasileiras, no Peru e, atualmente, vive uma nova jornada na Amazônia paraense.

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