O segundo texto da série da ATLAS Florestal sobre os desafios e as oportunidades para a restauração no Brasil convidou Rafael Freiria, professor da UNICAMP na Faculdade de Tecnologia, pesquisador líder do grupo de pesquisa “Direito e Políticas Públicas Ambientais” do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e especialista em políticas públicas para apresentar a sua visão sobre a atual conjuntura do setor de restauração no país.
Seja no campo ou nas cidades, a restauração é necessária; e a ação antrópica de baixo impacto se torna um caminho promissor para resgatar a paisagem natural dessas áreas. “Precisamos de linhas de projetos rurais e de infraestrutura verde, Soluções Baseadas na Natureza (SBN) e envolver os serviços ecossistêmicos a partir de um conjunto de conhecimentos técnicos e de legislações voltadas para esse objetivo comum que é o resgate da natureza”.
Freiria, que atua em pesquisas interdisciplinares nas áreas de direito ambiental e sustentabilidade, explica que o seu caminho profissional foi norteado por inquietações que emergiram, em um primeiro momento, de sua história pessoal. “Vivi na pele a transição do desenvolvimento agrícola para uma forma mais sustentável. Minha história começa no campo com familiares do setor produtivo e isso me mobilizou na busca pelo melhor impacto na ocupação do solo”.
Com vasta experiência em projetos de restauração e de recuperação ambiental, seja como consultor ou como secretário de meio ambiente, o professor destaca a necessidade de cidades mais inteligentes que desempenhem uma relação mais saudável com suas áreas verdes.
“Reativar os serviços ecossistêmicos que não estão sendo otimizados em áreas urbanas é parte de uma via próspera que trabalhe em cima do potencial de restauração de regiões degradadas, na cidade ou no campo. Para executá-lo, precisamos investir em pessoas vocacionadas que trabalhem com maior eficiência, além de abrir espaço para os negócios que buscam sustentabilidade econômica também garantirem a sustentabilidade ambiental”.
Na restauração florestal, academia e poder público devem caminhar juntos. Um dos papéis fundamentais das universidades, por exemplo, é o de formar pessoas que escolham o impacto positivo como norte. A produção de conhecimento implica em estudos de casos que deverão sair para a prática, visando melhores condições de vida nas sociedades.
“Para isso, precisamos romper os muros das universidades, realizar projetos com extensão comunitária e desenvolver junto com organizações do segundo e do terceiro setor, a partir de interesses comuns”, explica Freiria. “Precisamos ser laboratório da sociedade civil e estreitar a relação entre a produção de conhecimento das universidades e o trabalho de campo e de implementação com os demais parceiros”.
Freiria também ressalta a necessidade das empresas reverem seus princípios e se comprometerem verdadeiramente com a agenda ESG. Assimilar o discurso e colocá-lo em prática para que resultados concretos se desenvolvam também é esperado dos tomadores de decisão no poder público. “Precisamos de comprometimento por parte das lideranças. A restauração está dentro de várias agendas, ela é transversal e precisa ser compartilhada. É fundamental que haja conscientização, engajamento e mobilização por parte da sociedade. Todos os setores têm uma cota de contribuição muito grande a oferecer”.
O fortalecimento da agenda ambiental passa, portanto, pela escala individual. Conscientizar a população a respeito dos benefícios pessoais e coletivos de cidades mais sustentáveis é parte da estratégia de manutenção do que foi restaurado e do que ainda será.
“A restauração é matriz de transformação. Ela em si implementa a agenda ambiental na sua perspectiva mais atualizada. Essa agenda tem um potencial muito grande de contribuir para diminuição dos altos níveis de emissão de gases de efeito estufa no país, contribuindo também para a agenda oficial de combate às mudanças climáticas”, finaliza Freiria.