Desafios e oportunidades para a restauração no Brasil: Setor privado

Os sócios-fundadores da ATLAS Florestal, Elder Rodrigues e Victor Felippe, discutem a urgência de estruturar a cadeia da restauração no país e capacitar profissionais que atuam na ponta e indicam caminhos para atingir esses e outros objetivos.

Foto: Rodrigo Duarte/Acervo PNUD

Trazer a vida de volta às paisagens enquanto gera ganhos socioeconômicos para a sociedade é o que motiva a ATLAS Florestal a trabalhar com a restauração de áreas degradadas no Brasil. Até 2030, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou a Década da Restauração de Ecossistemas reforçando a importância das florestas no combate à emergência climática e na manutenção da vida na Terra. Um dos compromissos assumidos pelo Brasil foi o de restaurar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até o final da década. Mas será que essa meta é possível? Quais os desafios e as oportunidades que os diferentes elos desse setor enfrentam para construir caminhos regenerativos no país? A ATLAS Florestal, uma das principais empresas de restauração florestal produtiva do Brasil, com foco em planejamento, modelagem, implantação e monitoramento de florestas produtivas na cadeia da Restauração Florestal e Agroflorestal, decidiu ouvir diferentes profissionais do setor, comparar suas visões e traduzir o contexto atual para apontar os caminhos mais promissores. Este é o primeiro texto de uma série que retrata a perspectiva de diferentes profissionais comprometidos com a restauração no Brasil.

A necessidade de investimento no setor

Elder Rodrigues, co-CEO da ATLAS, indica que estruturar a cadeia da restauração a nível nacional é hoje o maior desafio que o setor enfrenta.

“Precisamos fortalecer a restauração como atividade econômica e não apenas como atividade de remediação ambiental. Precisamos dispor de mais recursos, incentivos econômicos e de mais tecnologia para tornar o trabalho no campo mais leve e justo”, explica.

Foto: ATLAS Florestal

Um dos caminhos para garantir o ganho de escala é a atuação direcionada ao retorno econômico, à descentralização da cadeia e à capacitação dos profissionais que atuam na ponta. “Para apoiarmos a escalabilidade e garantirmos que a restauração chegue a todos os biomas precisamos da capacitação em massa dos profissionais que trabalham no campo: coletores de sementes, produtores de mudas, plantadores. Eles são imprescindíveis para desenvolver o setor”, pontua Victor Felippe, co-CEO e engenheiro ambiental.

A dupla ainda reforça a necessidade de conscientizar os investidores sobre os impactos socioambientais e sobre o retorno dos investimentos em determinados produtos agroflorestais que podem ser mais demorados em comparação aos mais tradicionais.

“É necessário quantificar os bens e serviços da floresta. Valorar e comercializar mais para os investidores se sentirem mais seguros. Se o investidor está interessado em um retorno de 5 anos, vamos trabalhar com produtos que tenham este retorno. Também trabalhamos com áreas piloto que podem ser replicadas. Queremos provar que é viável investir na recuperação florestal.”, ressalta Victor

A ATLAS busca apresentar às pessoas os benefícios socioeconômicos que a restauração florestal pode trazer, evidenciando que não é suficiente restaurar sem estabelecer conexões ecológicas e sociais com o todo e que somente preservar não conterá as mudanças climáticas. Torna-se fundamental retornar os recursos naturais de forma cíclica às paisagens, garantindo incremento de renda para comunidades ribeirinhas, coletores de sementes e para todos aqueles que têm seu ganho de vida na floresta.

Foto: Elder Rodrigues

A necessidade de ação coordenada entre os elos da corrente

Estabelecer uma conexão entre o setor financeiro, a academia e os produtores rurais é uma questão-chave para fortalecer o setor e construir mecanismos de ação coordenada no país.

“Quando os diferentes elos estiverem fortalecidos e conectados será possível puxar a corrente da restauração no Brasil com mais força”, destaca Elder.

“É também necessário que empresas e instituições que trabalham com a restauração no país ofereçam indicadores de impacto mais precisos e façam o acompanhamento de, no mínimo, 10 anos de um projeto florestal, pois a área restaurada tende a regredir com os anos”.

O diálogo aberto e transparente entre a academia e os setores público-privado é um dos caminhos para este ganho de escala no país. “A academia deve envolver outras iniciativas para trabalhar conjuntamente. Existem cases de sucesso que podem abrir caminhos para políticas públicas e marcos regulatórios”, aponta Victor.

A dupla também aponta para oportunidades de investimento para solucionar os desafios mencionados: investir em sementes e mudas para fortalecer a cadeia da restauração; investir no mercado de carbono com metodologias de quantificação; criar uma plataforma que conecte os atores deste setor (“marketplace da restauração”).

“Este último seria um caminho promissor para unir fornecedores de insumos e de mudas, construir uma rede de coletores de sementes, dar visibilidade aos técnicos recém-formados, etc. Juntar os diferentes elos dessa corrente em uma única plataforma ajudaria a dar escala”, explica Victor.

Foto: ATLAS Florestal

A empresa também entende a importância de trabalhar com monoculturas e buscar caminhos inovadores e sustentáveis para essas áreas. “Também estamos olhando para soja, milho, algodão e para as indústrias madeireira e têxtil para entender como aumentar a biodiversidade dessas produções e quais práticas regenerativas podem ser acrescentadas para diminuir seus impactos negativos ao solo e nas mudanças do clima. Queremos integrá-las à paisagem onde estão inseridas e regenerar essas cadeias produtivas”, conclui Elder.

Nicole Wey Gasparini

Nicole Wey Gasparini

Jornalista, escritora e trabalha freelancer na área de sustentabilidade e crise climática. É autora do livro “Boon na minha vida - uma jornada pela Ásia” (Bambual Editora) narrado a partir da imersão que realizou durante seis meses para cinco países asiáticos, aos 21 anos. Nos últimos anos, morou em diferentes cidades brasileiras, no Peru e, atualmente, vive uma nova jornada na Amazônia paraense.

2 respostas

  1. Parabéns Elder e Victor por propor novos caminhos em busca de soluções viáveis para a manutenção das áreas florestadas da nossa Mata Atlântica.

    Acompanhadas de muita pesquisa e estudo junto com os produtores e equipe multidiciplinar, e assim formar técnicos capazes de auxiliar as pessoas do campo nesta tarefa extremamente complexa.

    Eu como Engenheira Agrônoma, vivenciei os benefícios do manejo integrado de doenças e pragas, onde os conhecimentos técnicos são fundamentais para conseguir resultados satisfatórios.

    Fico feliz em ter estes jovens aqui em Mogi das Cruzes, com excelente conhecimento técnico, trabalhando arduamente em prol de um futuro menos sombrio ao nosso planeta.

    1. Olá, Marta! Obrigada pelo carinho e apoio em nos acompanhar aqui em nosso blog também. Comentários assim nos enchem de esperança e nos dão mais força para continuar nosso trabalho e compartilhar mais desse caminho com todos.
      Todos os meses estamos lançando um artigo da Série: Desafios e Oportunidades para o Setor da Restauração. Teremos especialistas de diversas áreas como, academia, setor financeiro, políticas públicas, além de proprietários e produtores rurais. Nosso foco será mostrar as visões de diferentes setores que juntos podem contribuir com a cadeia da restauração, para que possamos alinhar o diálogo, as sinergias, os objetivos e os caminhos. Continue acompanhando a série e compartilhando com os amigos. Muito obrigada!

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